18.5.06

sadomaso

A integração emocional de Portugal na Europa, com todos os aspectos positivos que tem, não passa de um exercício de autoflagelação colectiva, tanto para eles como para nós.

Para eles, povos do centro e do norte, pelo sofrimento constante de assistir às tentativas de desconcentração decisória por parte de países demografica e economicamente insignificantes, mas sobretudo para nós, que nos fustigamos por uma forma de estar maturada ao longo de um milénio de história.

Acenam-nos com o bem-estar das populações ditas mais evoluídas e nós baixamos as cabeças, na consciência de que pouco temos a oferecer ao mercado global, e procuramos ser um pouco mais parecidos com os outros.

Nesta busca sôfrega de uma osmose vitoriosa, até fingimos não perceber que nunca a Pensínsula Ibérica foi tão una, pois no fundo desejamos que alguém, seja quem for, tome conta disto. E dedicamo-nos a perceber quando foi que eles, mesmo aqui ao lado, passaram para o lado dos competitivos e nos deixaram aqui em agonia.

Ao mesmo tempo, olhamos mais longe e vemos em pequenos países como a Finlândia, a Holanda ou o Luxemburgo miragens do que poderíamos ser se de repente nos metamorfoseássemos. Assim, num passo de magia, por força de vontade.

Talvez as causas do nosso distanciamento progressivo do resto da Europa não se resumam às políticas ineficazes, ao mau aproveitamento dos fundos disponíveis ou à corrupção que corrói qualquer traço de eficiência no sistema, mas incluam também a nossa descrença na força da nossa identidade por termos passado a acreditar que o ideal reside no oposto do que somos.

Quem sabe se tudo não passa afinal de uma questão de gestão das expectativas. Em vez de últimos em tudo na União Europeia, talvez pudéssemos ser um país com fortes capacidades no contexto mediterrânico.

O mais curioso é que, como observava uma amiga há pouco, todos os povos olham para os outros mais para Sul, ainda que próximos, como mais atrasados e desorganizados.
Se o sentimento destes povos tiver aderência à realidade, e o senso comum assim o indica, facilmente se conclui que o clima tem forte influência no comportamento dos indivíduos e na eficiência das sociedades.

Para além disso, com base nesta observação percebe-se que, façamos o que fizermos, seremos sempre vistos como atrasados pelos países mais a Norte.
O que não se compreende é que nós deixemos.

[Nuno]

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Nuno...
já la vai um mês e não blogaste mais nada.
Espero que seja por bons motivos.
Bjs
Isabel (the english one)

20.6.06  
Blogger Al Cardoso said...

Sabe querido amigo, que Portugal nem sempre foi assim, nos seculos XV e XVI, atingimos desenvolvimento e conhecimentos, que faziam com os do Norte nos invejassem. Acontece que por pura estupidez e para fazer a vontade aos nossos vizinhos "espanolos" (o n leva um til) um estupido rei decidiu expulsar, a classe culta e pensante e esquecendo seculos de tolerancia inveredou ele e os seguintes reis, por uma perseguicao e assassinio de portugueses que so por terem religiao diferente, nao deixavam de se-lo.
Hoje passados 500 anos ainda nao recuperamos e provavelmente nunca o faremos, enquanto nao puzermos em accao a tolerancia e deixar-mos as invejas mesquinhas.

30.8.06  

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