18.10.05

o ser que não sou

Os dias imitam-se na sua calma rotineira
e arrastam um corpo que reconheço desde sempre;
não perguntam o que quer, como se sente,
ou sequer se concorda com o caminho que segue.
Esta é a natureza egoísta do tempo, seguro
da sua continuidade, alheio aos pequenos dramas.
Mas reparo que também eu deixei de olhar para mim,
que adoptei a postura dengosa do tempo:
fechei os olhos ao problema que sou, às questões
que coloco e ao que represento para ti.
Há muito não pergunto quem sou ou quero ser;
continuo contudo na ânsia da resposta, como se
esta fosse chegar de surpresa e mudar tudo.
Sem me conhecer, duvido das emoções que julgo ter
pois podem não me pertencer.
E não percebo que lugar ocupo.