13.12.05

intérpretes

à medida que o internetês, a língua global de inspiração anglo-saxónica, ocupasse os espaços dos idiomas tradicionais, imaginar-se-ia que as barreiras linguísticas se esbatessem com suprema naturalidade, elevando a comunicação a níveis inimagináveis.

Pelo menos é esse o raciocínio (como o entendo) que impele os defensores dos espaços virtuais comuns, da partilha de pensamentos, da troca de ideias, da globalização cultural e da generalização de conceitos: se comunicarmos mais, crescemos como um todo.

Sucede contudo uma falha que, intrínseca ao método de pesquisa que adoptámos, se afirma indiferente à estética e insuperável pelos meios, resumindo-se ao seguinte: o ser humano não quer ainda mais partilha.

Em contraponto com o empenho de alguns na redução de diferenças, todos apostam, a nível individual ou grupal (tribal), na diferenciação. Como um todo, rejeitamos a massificação e repudiamos a equivalência metafísica.

Só assim se explica a especialização, que conduz ao aprofundamento por vezes doentio de temáticas com relevância no mínimo questionável, e a consequente necessidade de interpretação.

Enquanto especialistas, deixamos de saber dirigirmo-nos àqueles que não o são, e procuramos quem possa traduzir o que dizemos.
Criamos portanto novas barreiras linguísticas, novas paredes na comunicação. Mas este fenómeno, embora contraproducente, enraizou-se.