23.12.05

lar

Olhos fixos no monitor mas ouvidos presos nas costas,
deixo o dia passar sem controlo ou intervenção e
aproveito as sempre parcas gotas da poção mágica que,
sem mais, transforma o negro em rosa idílico.

As letras juntadas em esforço estético pouco dizem
do que capturo nos cheiros e sons que me rondam,
enquanto extasiado me imponho carregar nas teclas
e evitar que um riso sequer se perca em mim.

Como personagem que sou neste quadro, deixo ao artista
as pinceladas de cada gesto, afasto-me e observo,
actor e público num só, num prazer contido para não
perturbar a cadência da peça e as falas dos colegas.

Ao redor a acção desenrola-se, ausente destas reflexões,
movida por motivações que estranho, mas agarra-me
como se eu tivesse podido, em algum momento,
contribuir para a escolha do caminho que tomou.

Neste misto de realidade ficcionada e sonho concretizado,
confundo visto e imaginado, deliciado por poder fazê-lo,
frustrado pela antecipação das saudades deste agora,
realizado pela certeza de uma vida desde já gloriosa.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

;)

25.12.05  

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