10.2.06

Cromos

Angola tem-se revelado um poço de supresas e a cada esquina, literalmente, somos confrontados com cada "cromo" que nos torna a nossa vida insuportável ou suportável.

Se Angola é a terra dos "cromos", Luanda é sem dúvida a sua capital e aonde a sua concentração per capita atinge o auge!

Aqui há cromos por todo o lado, há o cromo que arruma o carro, o cromo que lava o carro, o cromo que leva as compras, o cromo que faz a segurança ao carro, o cromo que vende o jornal, o cromo que pede dinheiro, o cromo que vende cadeados, a croma que vende fruta, o cromo que canta, o cromo que dança, o cromo que gesticula, o cromo que nos olha, o cromo que nos chama "madeirenses", etc.

Luanda é pois uma verdadeira caderneta de cromos...E o mais engraçado é que ao contrário das nossas antigas cadernetas onde faltavam sempre alguns cromos, aqui o problema é o oposto, há falta é de espaço na caderneta para tanto cromo...

Assim, a nossa vida diária é pautada de cromo em cromo. Chegamos a casa e temos o cromo do Jorge a indicar-nos o lugar de estacionamento (aliás lugar esse óbvio de se ver...). Claro está, de braço estendido a chamar "chefe" e "madrinha" para receber o seu saldo diário de 100 kwanzas (cerca de 1 dólar)...

Depois veêm os outros cromos...O cromo dos cadeados, o cromo dos cabides, o cromo dos jornais, a croma da fruta, o cromo da segurança, etc...Depressa somos estrelas de rock rodeados de dezenas de mal-cheirosos cromos a pedirem o seu "saldo"...

Fugidos desta confusão encontramos refúgio na nossa casinha angolana. Casinha de 2 assoalhadas - quarto e sala e que neste ambiente parece deverás um verdadeiro e acolhedor palácio.

Depois há o cromo do senhorio...Personagem bem falante e de estratagemas vários é a autêntica personificação do "angolano" ousado...Fala, fala, fala, mas não o vejo a fazer nada...Isto tudo porque o nosso bendito gerador não funciona e andamos à quase um mês neste diálogo e nada é feito...Mas cromo que é cromo tem que se manter fiel à sua "cromisse" e ficar o mais quieto possível no seu canto, ou melhor no seu espaço na caderneta.

Enfim, saltando de cromo, há depois os cromos dos supermecados, mini-mercados e afins...Sempre que vamos ao supermercado há sempre um cromo por perto...Ora ajudam a arrumar o carro, ora ficam a proteger o carro, ora ficam a lavar o carro, ora ficam à espera, ora arrumam o carrinho de supermecado, ora ajudam a levar as compras...

Depois há os cromos dos restaurantes...Os cromos de restaurante são a elite, ajudam os ricos e endinharados a estacionar os seus potentes e grandes carro o mais perto possível da porta do restaurante. Depois claro está é abrir os cordões à bolsa e pagar...

Mas note-se que à medida que subimos na hierarquia dos cromos maiores os saldos a dispender...Um cromo de restaurante leva no mínimo 300 kwanzas (cerca de 3 dólares)... Lá se vai a tão "socialista" carteirinha de cromos que independentemente do jogador qie vinham lá dentro valem todas o mesmo...

Luanda é pois a terra dos cromos...E tal como os cromos há muitos repetidos e aonde quer que vamos pensamos sempre: "já não vi este cromo antes!?"

Depressa constatamos que a cara no cromo muda mas o cromo esse é o mesmo, a mesma atitude, a mesma indolência, a mesma preguiça, a mesma resignação, o mesmo desenrascanso...

É isto que verdadeiramente chateia aqui...Cromos e mais cromos para uma caderneta que à muito tempo já está completa...Muitos cromos todos eles repetidos e sem hipótese de trocar com o colega do lado...

É pois esta repetição que moí e cansa a vida diária nesta cidade de cromos. Não perceberão eles que a nossa caderneta já está completa!?

Vale o facto de haver locais de "des-cromização", onde por um punhado de valente de dólares (como não podia deixar de ser nesta sociedade de "pedinchões") encontramos paz e sossego nem que seja só por um bocadinho!

Temos encontrado sítios destes que têm sido os nossos refúgios dos cromos, sítios como o restaurante Fortaleza, onde comemos uma das melhores pataniscas de bacalhau e onde no seu muy pátio lisboeta passamos serões de verdadeiro relax com outros seres desejosos de "des-cromização".

Depois há os passeios para fora de Luanda, como aconteceu à dois fins de semana passados, onde fomos ao parque natural da Kissama...Verdadeiro paraíso onde podémos ver elefantes, gazelas, gnus, impalas, macacos, abutres, etc..e como tal, descansar da azáfama que é Luanda.

Mas depressa tudo se desvanece e voltamos para os cromos...E por falar em cromos, tenho que ligar ao cromo do senhorio para saber se já comprou a placa para pôr no gerador para ver se uma vez por todas temos luz quando falta a luz (em média a luz falta 3 dias por semana...).

[Pedro]