22.2.06

Socrates vs Scolari



Diferentes por fora, mas tão parecidos por dentro...
[Nuno]

meritocracia

De um artigo no Expresso sobre a gestão estratégica pelo reconhecimento do mérito, de Cátia Mateus e Marisa Antunes, retiro o seguinte:

«[...]
Já para Maria Márcia Trigo, docente e directora da Business School da UAL, em Portugal há dois tipos de empresas: as que jogam o jogo competitivo global (a minoria) e as demais empresas. Nas primeiras, refere, «o mérito é reconhecido ainda que, mesmo nessas, a selecção inicial seja frequentemente realizada através de relações e referências pessoais, familiares e profissionais de proximidade». Nas restantes, o mérito é pouco valorizado e, para Márcia Trigo, «esta realidade faz com que em Portugal a ‘network' pessoal e profissional assuma níveis muito elevados e que mesmo em processos de recrutamento muito profissionalizados a ‘cunha' seja determinante».

Todavia, Márcia Trigo não nega que há um reverso da medalha no que toca à meritocracia. «Os talentos são mais incómodos para as organizações porque questionam e se questionam, são muito exigentes com as chefias, com as condições de trabalho, precisam de maior espaço de decisão, convivem mal com injustiças, não suportam burocracias e exercem grande pressão sobre os colegas, as chefias e a administração». Para Márcia Trigo «este mercado global do talento que está em expansão, assusta empresários, executivos, quadros e até os próprios talentosos».
[...]»

O artigo diverge depois para o tema da subqualificação, mas poderia ter aprofundado o tema do desperdício do talento, afinal grave num país que se diz de talento tão necessitado.

Quando se fala da 'sicilização' portuguesa, esta é uma face visível: a lealdade submissa é muito mais valorizada do que qualquer capacidade.

[Nuno]

21.2.06

MNE

Dia D

Sou do Benfica
E isso me envaidece
Tenho a genica
Que a qualquer engrandece
Sou de um clube lutador
Que na luta com fervor
Nunca encontrou rival
Neste nosso Portugal.

(Refrão - Repete uma vez)

Ser Benfiquista
É ter na alma a chama imensa
Que nos conquista
E leva à palma a luz intensa
Do sol que lá no céu
Risonho vem beijar
Com orgulho muito seu
As camisolas berrantes
Que nos campos a vibrar
São papoilas saltitantes.
[Nuno]

20.2.06

Redução do sono

os novos veículos de competição

na saúde e na doença

Por diversas vezes já me foi dado a verificar casos de casais de idosos em que um adoece com gravidade e pouco depois o outro, até aí em plenas condições de saúde, definha e acaba também por adoecer.

In Sickness and in Death: Spouses' ills imperil partners' survival, um artigo da Science News que confirma aquilo que regularmente se observa.

[Nuno]

The origin of life

Olé!

Recentemente tornou-se acessível ao comum dos portugueses a possibilidade de isolar e criopreservar células estaminais do sangue do cordão umbilical dos recém-nascidos. Podendo as células estaminais embrionárias dar origem a todos os tipos celulares do indivíduo adulto, a sua recolha tem vindo a ser utilizada como um “seguro de saúde” familiar.

Aliar a tecnologia à saúde sempre foi um assunto polémico e a actual legislação de nuestros hermanos proíbe a criação de bancos privados para preservar as células estaminais do sangue do cordão umbilical. Ora, esta proibição é uma oportunidade de negócio para as empresas portuguesas que operam no sector. Não são muitas mas tanto quanto sei tem havido anualmente milhares de recolhas de células do sangue do cordão umbilical de bebés espanhóis.

Ora aqui está um exemplo da nossa modernidade face a Espanha. Devem ser poucos mas que os há, há.

Patrícia

17.2.06

verborreia

Ou se trata de uma estratégia de criação factos políticos para entreter a oposição e os media ou de verborreia por parte de alguns ministros.
Inclinar-me-ia para a segunda hipótese (embora a primeira me agrade sobremaneira pelo ambiente de conspiração que deixa no ar), tendo em conta que são sempre os mesmos.

Desta vez foi Correia de Campos que, ao partilhar a sua preocupação com a solvabilidade do Sistema Nacional de Saúde, se esqueceu que usar os media para divulgar angústias pessoais ou recados internos tem um efeito de propagação com resultados imprevisíveis.
Deixar o país em polvorosa pode ter o efeito benéfico de alertar para o problema, que é real, mas acaba por ser contraproducente, ao pôr em risco a sustentabilidade do projecto e do ministro que o conduz.

[Nuno]

paradoxo

A idade, segundo sempre me foi dado crer, traz sabedoria e tolerância. A ideia é que, à medida que a experiência se acumula, somos mais capazes de compreender os diversos pontos de vista e aceitar as posições de terceiros, ainda que em perfeita simetria em relação às nossas.

A percepção que tenho do fenómeno da idade é contudo algo diferente: conforme ganho anos de vida somo certezas e intolerância, guiado por uma qualquer equivalência subconsciente entre maioridade e assertividade.

Quando mais novo, aceitava a dissonância sem sequer a entender, por uma questão de princípio sobre o qual nem me ocorria reflectir. A presente sinto uma crescente aproximação às motivações alheias e, em paralelo, uma rejeição maturada das mesmas.

Posto assim, poderia suspeitar que a anterior aceitação se dava por puro desconhecimento do que o estranho representava. Ao invés, em consciência digo que acontecia por incompreensão do próprio.

[Nuno]

terrorismo

O Departamento de Ciência Política da Universidade de Gent publicou um estudo estatístico sobre a evolução quantitativa e geográfica do terrorismo a nível mundial.
The Evolution of Terrorism in 2005, A statistical assessment, para analisar com a reserva necessária na abordagem a qualquer estudo estatístico.

Entre as principais conclusões, de referir «an overall decline of international terrorism, both in number of victims and attacks», «it turns out that international terrorism has evolved from a more or less dispersed international threat to a largely regional threat, since it strikes primarily in the Middle East» e «Muslims are the principal victims of terrorism perpetrated in the name of Islam».

Gostaria de dar principal ênfase à seguinte conclusão: «The Iraq war, being presented as part of the war on terror, has contributed to turning Iraq into today's epicentre of terrorism.»
(Como diziam os Faith No More, «well, it's a dirty job but someone's gotta do it»)

Volto a chamar a atenção para o cuidado na abordagem, sobretudo na presença de conclusões tão sonantes. O anexo 3 contém comentários importantes relativamente à metodologia e à qualidade dos dados utilizados.

[Nuno]

ligações à net

http://rateyourmusic.com
Rate Your Music is an online community of people who love music. Sign Up Now to catalog your music collection, rate and review music, receive recommendations, create and share lists, and meet people with the same taste in music as you.

[Nuno]

Um pouco de seriedade faz falta

Proprietários consideram que subida do imposto para casas desocupadas é "demagógica e injusta"


"Só demonstra a ganância do Estado e das autarquias na cobrança dos impostos". Isto foi o que disse Manuel Metello, justificando ainda que as casas devolutas têm poucos gastos em gás e electricidade e por isso não mereciam o aumento dos impostos.

Agora pergunto-me, será que este ilustre senhor, presidente da Associação Lisbonense de Proprietários, nunca ouviu falar de especulação imobiliária? Será que este senhor se preocupa minimamente com um património que é de todos, nomeadamente: a cidade de Lisboa? Será que este senhor terá algum tipo de consciência social, ou qualquer outro tipo de consciência que não se confunda com autismo? Ao menos sabemos que há pelo menos um grupo de pessoas, bem necessitadas, que têm os seus interesses bem defendidos.

Este tipo de atidudes do governo, fazem-me lembrar um castigo dado pelos pais a uma criança de três anos que não deixa mais ninguém brincar com os seus brinquedos. O problema é que, noutros casos parecidos, não há ninguém para castigar o governo, pelo menos durante quatro anos.

-Tiago-

Paulo Portas: compra de C-295 para Força Aérea é "bom exemplo de continuidade"

oh, there your are, Peter...
[Nuno]

A era do tecno-chique

Há dias li nas notícias que a China pretende aumentar consideravelmente o seu investimento na área da tecnologia de modo a alcançar o top 5 dos líderes mundiais. Achei curioso, porque fazendo o contraponto para Portugal, onde tanto se fala do choque tecnológico, o que se constata é a apetência dos portugueses pelos telemóveis (logo tecnologia é sinónimo de telemóvel).

Não há quem não o(s) tenha e não há quem não lhe procure as funções tecnologicamente mais avançadas: câmara fotográfica ou de filmar digital integrada com zoom, MMS, conectividade bluetooth e infravermelhos e não sei mais quantas características que não lembram ao diabo! Sei disso porque o meu telemóvel esgotou o prazo de validade estipulado e ando a adiar a dor de cabeça de escolher um novo.

Ora, se é verdade que nos dias que correm não se prescinde desta tecnologia emergente (há 20 anos ninguém tinha telemóveis), é também verdade que a ela começou a estar aliada a moda. Já se via estilistas de renome ou marcas associadas a gamas de telemóveis.

Esta manhã, deparei-me com a notícia que revela que os nossos concorrentes na corrida tecnológica (leia-se, chineses) decidiram aplicar a aliança entre tecnológico e design ao topo da computação. Agora vamos assistir aos PCs forrados a cabedal beje, um monitor LCD com base em madeira de cerejeira para se integrar na mesa do escritório, um computador em que a base se confunde com o alvor da mesa de trabalho.

E é isto que nós não temos. A capacidade de entender que os segredos tecnológicos se descobrem num instante, de antever o que vai estar a dar nos próximos tempos. Nos próximos tempos assistiremos ao fenómeno do tecno-chique. É que só choque tecnológico não chega Sr. Ministro, é preciso que se consiga acrescentar valor.

Por isso nós não somos um mercado emergente. Não por sermos estúpidos mas por sermos, na generalidade, mais fracos, menos dinâmicos, mais acomodados.

[Patrícia]

16.2.06

nacionalidade

A nova Lei da Nacionalidade que será aprovada no Parlamento, esta quinta-feira, vai permitir aos netos de portugueses que tenham nascido no estrangeiro obter nacionalidade portuguesa.
De acordo com a nova lei, o Governo concede «naturalização aos indivíduos nascidos no estrangeiro com pelo menos um ascendente do segundo grau da linha directa de nacionalidade portuguesa e que não tenham perdido essa nacionalidade».
[...]
A legislação que vai ser aprovada esta quinta-feira, no Parlamento, vai também beneficiar os direitos dos filhos dos estrangeiros que vivem em Portugal.
Com estas alterações é possível atribuir a nacionalidade portuguesa a imigrantes de terceira geração, desde que um dos pais tenha nascido em Portugal.
O diploma concede também a nacionalidade portuguesa a imigrantes de segunda geração, mas limitando o acesso à condição de o progenitor se encontrar há cinco anos em situação legal em Portugal.

Cidadãos estrangeiros, nascidos fora de Portugal e possivelmente sem qualquer ligação emocional ou cultural ao nosso país podem ter acesso livre à nacionalidade portuguesa, enquanto pessoas nascidas e residentes no nosso país podem ver barrado esse mesmo acesso por critérios discricionários de filtragem.
O que é a nacionalidade afinal?

Ponhamos a questão nestes termos: quem é mais cidadão português, Deco ou Robert Pires?

[Nuno]

ligações à net

desta vez para os mais novos: História do Dia, um sítio com histórias para todos os dias, com versões em português e inglês.

[Nuno]

15.2.06

Cuspir para o ar

Os jornalistas Joaquim Eduardo Oliveira e Jorge Van Kriken, autores das notícias sobre os registos telefónicos de figuras do Estado apensos ao processo Casa Pia, foram constituídos arguidos por "acesso indevido a dados pessoais".

Aqui estão os bodes espiatórios que a nossa, ultra-eficiente, Procuradoria Geral da República arranjou para tentar amainar as críticas da opinião pública. Não que os jornaçistas não tenham culpas no cartório, pois, por um lado, eles têm um dever ético e moral que vai muito além de um mero factor comercial, coisa que hoje em dia vem sendo cada vez mais esquecida. Por outro lado, estes senhores sabiam perfeitamente que estavam a violar o segredo de justiça e o estatuto de jornalista, embora lhes conceda privilégios, não lhes permite fugir à lei.

Contudo, constituição destes senhores como arguidos, por acesso indevido a dados pessoais, não vai resolver o problema de fundo da Procuradoria Geral da República. Esta retaliação apenas castiga quem entrou e não quem deixou a porta aberta que, a meu ver, deve ter sido quem mais beneficiou desta grande embrulhada. Pois, foi o indivíduo que permitiu o acesso dos jornalistas a esta informação, aquele que enxovalhou todos os visados nas conversas e traiu, ainda mais, a confiança de todos os portugueses no sistema de justiça. O que significa que, o verdadeiro prevericador vai ficar impune e que a nossa Procuradoria Geral da República continua a ser incapaz de resolver os seus problemas internos.


-Tiago-

passadeiras do poder

Há algum tempo que venho observando o comportamento das pessoas quando utilizam a passadeira para atravessar uma qualquer estrada. Salvo raras excepções, os peões parecem ter adquirido a convicção arreigada de que a passadeira é um prolongamento do passeio.
Munidos dessa crença, exibem uma confiança cega (e frequentemente uma atitude arrogante) relativamente à sua prioridade absoluta no que toca ao direito de utilização desse espaço.
Neste contexto, não é infrequente ver peões a reduzir drasticamente a velocidade enquanto atravessam a estrada, a parar para falar com outros que ficaram no passeio ou a protestar violentamente (por vezes com insultos ou mesmo agressões aos veículos) quando não lhes é cedida passagem.

Importa por isso talvez lembrar que a passadeira está situada na faixa de rodagem e que o peão, ao utilizá-la, está a sair do seu espaço natural, o passeio, para atravessar a zona prevista para os veículos automobilizados.
Esta convivência complexa exige consideração de ambas as partes, e cabe também ao peão saber respeitar as regras de utilização das vias comuns. Até porque o mais normal é o peão ser também automobilista ou, pelo menos, fazer-se transportar em automóveis de algum género e, nessas circunstâncias, conseguir entender as dificuldades reais que surgem na tentativa de respeito da prioridade dos peões nas passadeiras.

A propósito das obrigações dos peões, passo agora a transcrever os números 2., 3. e 4. do artigo 3.º e o artigo 101.º do Código da Estrada:

Artigo 3.º
Liberdade de trânsito
2. As pessoas devem abster-se de actos que impeçam ou embaracem o trânsito ou comprometam a segurança ou a comodidade dos utentes das vias.
3. Quem infringir o disposto no número anterior é sancionado com coima de 30 a 150 euros.
4. Quem praticar actos com o intuito de impedir ou embaraçar a circulação de veículos a motor é sancionado com coima de 300 a 1500 euros, se sanção mais grave não for aplicável por força de outra disposição legal.
Artigo 101.º
Atravessamento da faixa de rodagem
1. Os peões não podem atravessar a faixa de rodagem sem previamente se certificarem de que, tendo em conta a distância que os separa dos veículos que nela transitam e a respectiva velocidade, o podem fazer sem perigo de acidente.
2. O atravessamento da faixa de rodagem deve fazer-se o mais rapidamente possível.
3. Os peões só podem atravessar a faixa de rodagem nas passagens especialmente sinalizadas para esse efeito ou, quando nenhuma exista a uma distância inferior a 50 m, perpendicularmente ao eixo da via.
4. Os peões não podem parar na faixa de rodagem ou utilizar os passeios de modo a prejudicar ou perturbar o trânsito.
5. Quem infringir o disposto nos números anteriores é sancionado com coima de 6 a 30 euros.
[Nuno]

reverse prejudice

Os produtores do filme Brokeback Mountain conseguiram um feito invejável: neste momento, quem não quer ver o filme é automaticamente preconceituoso, homofóbico, sexualmente inseguro e mais uma quantidade de adjectivos pouco abonatórios.
Esqueçam as desculpas esfarrapadas do género «eu só gosto de filmes porno», «eu não gosto de cinema» ou até «vou estar fora durante dois anos a estudar os hábitos dos Masai», se não viu e não tenciona ver é porque tem problemas de algum género com o tema da homossexualidade.

Ora a isto eu chamo preconceito invertido (o termo inglês soa mesmo melhor). Também por isso, mas seguramente não só por isso, não tenho a menor intenção de ver o filme. E recuso-me a justificar esta opção.

Mas não posso deixar de aplaudir uma estratégia brilhante de promoção que, entre outras façanhas, quase garantiu a priori o Oscar para o melhor filme.

[Nuno]

14.2.06

a blogosfera

e o seu poder num artigo em The Economist:

«In the blogosphere, however, a corporation's next big critic could be anyone. He might be an angry customer or a disgruntled employee—though that sort of tie to the company is not essential; nor does he need lots of industry experience or lengthy credentials to be a threat. All a blogger really needs to devastate a company is a bit of information and plausibility, a complaint that catches the imagination and a knack for making others care about his gripe.
Increasingly, companies are learning that the best defence against these attacks is to take blogs seriously and fix rapidly whatever problems they turn up.»

[Nuno]

ligações à net

Mais uma, recebida por e-mail: www.pentagonstrike.co.uk, sítio dedicado ao ataque ao Pentágono a 11 de Setembro de 2001.

[Nuno]

13.2.06

OPA

Confesso que me faz alguma confusão que só depois de anunciar a Oferta Pública de Aquisição tenha Belmiro de Azevedo começado a adquirir títulos da PT no mercado. Dizem que é para ganhar direitos de voto e poder de decisão, mas não consigo deixar de pensar que poderia ter feito o mesmo com muito menos dinheiro se tivesse comprado antes do anúncio, quando o preço das acções ainda não tinha disparado.

Foi anunciado publicamente que as negociações com o Estado começaram mais de um mês antes do anúncio, pelo que teria havido tempo de sobra para, com discreção, conquistar posição.
De certa forma, tudo soa a provocação, a teaser em que até Horta e Costa participa com os seus apelos melodramáticos à subida do preço.

Será que a OPA não passa afinal de uma OPV?

[Nuno]

12.2.06

falta de delicadeza

Andávamos nós convencidos da determinância da questão da liberdade de expressão (isto apesar de alguns políticos, num acesso incompreensível de pragmatismo, terem recusado os apelos para tomadas de posição mais de acordo com os princípios identitários universalmente reconhecidos da Grande Sociedade Ocidental) e da superioridade das manifestações silenciosas (com humor e ironia) quando, numa demonstração de evidente défice de cultura democrática, a gripe das aves se manifesta de forma bem agressiva em plena UE.

[Nuno]

10.2.06

quanto à liberdade de expressão,

encontrei no lugar mais improvável uma reflexão interessante:
«While most people on the Internet are ardent defenders of free speech, it is not an absolute right; there are practical limitations. For example, you may not scream out "Fire!" in a crowded theatre, and you may not make jokes about bombs while waiting to board an airplane. We accept these limitations because we recognize that they serve a greater good.
Another useful example is the control of the radio frequency spectrum. You might wish to set up a powerful radio station to broadcast your ideas, but you cannot do so without applying for a license. Again, this is a practical limitation: if everybody broadcasted without restriction, the repercussions would be annoying at best and life-threatening at worst.»

Nota: para quem gosta de descobrir preciosidades www, este senhor, autor das frases acima, tem 11 (onze) sites pessoais...

[Nuno]

Onde está o Noddy?

Li hoje nas notícias que já circulam por Lisboa os primeiros táxis abrangidos pelo sistema de segurança táxi seguro (a aplicação de um sistema GPS, ligado à polícia, que permite que o táxi esteja a todo o tempo localizável).

Fiquei ainda informada sobre a posição tomada pela Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL) que considera que este sistema não resolve o problema dos táxis, sendo antes necessária a alteração da lei para a permissão do uso da videovigilância.

Interrogo-me sobre o tipo de alteração e videovigilância, a que para além de dissuação do mau comportamento dos clientes:
· permite que se detecte e (severamente) puna o mau estado do veículo que tantas e tantas vezes oferece cintos de segurança que não funcionam?
· permite a detecção da inexistência de sistemas de retenção(vulgarmente conhecidas por cadeirinhas) para as crianças que também os utilizam?
· Ou detecta as inúmeras infracções por excesso de velocidade, passagem de sinais vermelhos, piso do traço contínuo - cometidas pelos profissionais da condução?

É inquestionável que toda a segurança (ou remuneração que cubra o risco) deve ser garantida a todos os profissionais. Todavia, não entendo porque hão-de os taxistas ser protegidos das leis mais básicas de mercado e, não hão-de ter uma fiscalização mais apertada, sendo os seus erros, como aliás em todas as profissões, qualificadas e como tal agravadas.

É que quando me dirijo a uma praça de táxis não posso escolher o que mais me agrada porque o serviço me dá garantias de prestar mais segurança e conforto. Pena é que, a grande maioria dos taxistas não seja tão conscienciosa quanto o Noddy. Está na altura de, para lá de apenas exigirem, começarem a prestar serviços que se coadunem com preços que praticam.

[Patrícia]

Cromos

Angola tem-se revelado um poço de supresas e a cada esquina, literalmente, somos confrontados com cada "cromo" que nos torna a nossa vida insuportável ou suportável.

Se Angola é a terra dos "cromos", Luanda é sem dúvida a sua capital e aonde a sua concentração per capita atinge o auge!

Aqui há cromos por todo o lado, há o cromo que arruma o carro, o cromo que lava o carro, o cromo que leva as compras, o cromo que faz a segurança ao carro, o cromo que vende o jornal, o cromo que pede dinheiro, o cromo que vende cadeados, a croma que vende fruta, o cromo que canta, o cromo que dança, o cromo que gesticula, o cromo que nos olha, o cromo que nos chama "madeirenses", etc.

Luanda é pois uma verdadeira caderneta de cromos...E o mais engraçado é que ao contrário das nossas antigas cadernetas onde faltavam sempre alguns cromos, aqui o problema é o oposto, há falta é de espaço na caderneta para tanto cromo...

Assim, a nossa vida diária é pautada de cromo em cromo. Chegamos a casa e temos o cromo do Jorge a indicar-nos o lugar de estacionamento (aliás lugar esse óbvio de se ver...). Claro está, de braço estendido a chamar "chefe" e "madrinha" para receber o seu saldo diário de 100 kwanzas (cerca de 1 dólar)...

Depois veêm os outros cromos...O cromo dos cadeados, o cromo dos cabides, o cromo dos jornais, a croma da fruta, o cromo da segurança, etc...Depressa somos estrelas de rock rodeados de dezenas de mal-cheirosos cromos a pedirem o seu "saldo"...

Fugidos desta confusão encontramos refúgio na nossa casinha angolana. Casinha de 2 assoalhadas - quarto e sala e que neste ambiente parece deverás um verdadeiro e acolhedor palácio.

Depois há o cromo do senhorio...Personagem bem falante e de estratagemas vários é a autêntica personificação do "angolano" ousado...Fala, fala, fala, mas não o vejo a fazer nada...Isto tudo porque o nosso bendito gerador não funciona e andamos à quase um mês neste diálogo e nada é feito...Mas cromo que é cromo tem que se manter fiel à sua "cromisse" e ficar o mais quieto possível no seu canto, ou melhor no seu espaço na caderneta.

Enfim, saltando de cromo, há depois os cromos dos supermecados, mini-mercados e afins...Sempre que vamos ao supermercado há sempre um cromo por perto...Ora ajudam a arrumar o carro, ora ficam a proteger o carro, ora ficam a lavar o carro, ora ficam à espera, ora arrumam o carrinho de supermecado, ora ajudam a levar as compras...

Depois há os cromos dos restaurantes...Os cromos de restaurante são a elite, ajudam os ricos e endinharados a estacionar os seus potentes e grandes carro o mais perto possível da porta do restaurante. Depois claro está é abrir os cordões à bolsa e pagar...

Mas note-se que à medida que subimos na hierarquia dos cromos maiores os saldos a dispender...Um cromo de restaurante leva no mínimo 300 kwanzas (cerca de 3 dólares)... Lá se vai a tão "socialista" carteirinha de cromos que independentemente do jogador qie vinham lá dentro valem todas o mesmo...

Luanda é pois a terra dos cromos...E tal como os cromos há muitos repetidos e aonde quer que vamos pensamos sempre: "já não vi este cromo antes!?"

Depressa constatamos que a cara no cromo muda mas o cromo esse é o mesmo, a mesma atitude, a mesma indolência, a mesma preguiça, a mesma resignação, o mesmo desenrascanso...

É isto que verdadeiramente chateia aqui...Cromos e mais cromos para uma caderneta que à muito tempo já está completa...Muitos cromos todos eles repetidos e sem hipótese de trocar com o colega do lado...

É pois esta repetição que moí e cansa a vida diária nesta cidade de cromos. Não perceberão eles que a nossa caderneta já está completa!?

Vale o facto de haver locais de "des-cromização", onde por um punhado de valente de dólares (como não podia deixar de ser nesta sociedade de "pedinchões") encontramos paz e sossego nem que seja só por um bocadinho!

Temos encontrado sítios destes que têm sido os nossos refúgios dos cromos, sítios como o restaurante Fortaleza, onde comemos uma das melhores pataniscas de bacalhau e onde no seu muy pátio lisboeta passamos serões de verdadeiro relax com outros seres desejosos de "des-cromização".

Depois há os passeios para fora de Luanda, como aconteceu à dois fins de semana passados, onde fomos ao parque natural da Kissama...Verdadeiro paraíso onde podémos ver elefantes, gazelas, gnus, impalas, macacos, abutres, etc..e como tal, descansar da azáfama que é Luanda.

Mas depressa tudo se desvanece e voltamos para os cromos...E por falar em cromos, tenho que ligar ao cromo do senhorio para saber se já comprou a placa para pôr no gerador para ver se uma vez por todas temos luz quando falta a luz (em média a luz falta 3 dias por semana...).

[Pedro]

World Press Photo

na versão 2005.

Eu teria votado nesta foto, que conquistou o primeiro lugar da categoria People in the News, em vez desta, para o título de World Press Photo of the Year.

[Nuno]

9.2.06

Declínio do “nós, as mulheres”

Foi com alguma surpresa, e agrado, que descobri que, em Outubro de 2005, se realizou o primeiro Forum Mundial Feminino (www.womens-forum.com). Diga-se desde já que, este Forum não tem como objectivo servir de luta à desigualdade social dos sexos, destacando-se da teoria social, corrente filosófica e movimento político conhecido por “feminismo”, antes pretendendo construir uma visão, influência e impacto femininos na economia e sociedade mundiais.

Entre vários temas abordados, gostaria de destacar a intervenção da antropóloga francesa Françoise Héritier que pretendeu analisar temas como: (i) qual foi a origem do domínio masculino; (ii) como é que desigualdades entre sexos foram legitimadas; e (iii) como podemos ultrapassá-las.

Este tema é-me particularmente interessante porque, estou grávida... de outra mulher. E como mãe, preocupa-me que a sua educação (bem como a do seu irmão) seja crivada de inequidades.

Naturalmente, tenho consciência de que homens e mulheres são diferentes, mas recuso-me a aceitar teorias do tipo “a mulher é biologicamente inferior”. Na realidade, ao longo da história, as mulheres enfrentaram obstáculos que impediram o seu desenvolvimento e preservaram a dominância masculina, nomeadamente a privação:

· da liberdade de escolher o seu destino;

· do controlo sobre a fertilidade;

· do conhecimento; e

· do acesso a posições de autoridade.

Nas últimas décadas, as mulheres que vivem no mundo ocidental têm assistido a uma mudança substancial de postura. As mulheres são mais activas, autónomas, independentes, confiantes e, diga-se, em abono da verdade, que não é por isso que perderam a sua feminilidade. Como mulher sinto-me então na obrigação de:

· agradecer a quem alterou atitudes, valores e preferências pessoais da sociedade: mulheres e homens das últimas gerações – e pessoalmente, em primeira instância à minha mãe;

· enaltecer a realização de eventos como o Forum que analisam com rigor e conhecimento o passado da dialética homem / mulher sem entrar em radicalismos ou discussões de que sexo será mais válido e que potenciam uma sociedade com uma visão mais integrada em termos de género; e

· assegurar que a futura geração de mulheres (nisto incluindo a educação de filho e filha) tenha a liberdade de escolher o seu destino.

Finalmente, não posso deixar de aqui referir o meu desconforto perante frases que generalizam e começam com “nós, as mulheres”.

[Patrícia]

A tristeza da nossa AR.

Estive hoje a ler um artigo, no Público, que falava na querela que suscitaram, na assembleia da républica, as declarações do nosso ministro dos negócios estrangeiros acerca dos ditos desenhos profanos e obscenos (quase tão obscenos como o não repeito dos direitos humanos) que desencadearam a última crise do ocidente com o médio oriente. Todos os partidos da oposição, incluindo o Manuel Alegre, à excepção do PC, tiveram como base crítica uma mera omissão retórica que era, nem mais nema menos, o facto do ministro ter condenado as cararicaturas e não ter condenado a violência. A esta crítica estupida devemos louvar a grande resposta do Freitas de Amaral: "Se há pessoas que têm dúvidas sobre se eu condeno a violência ou não é uma questão que até me faz rir, porque é óbvio que sempre o fiz e sempre o farei".

O que de facto me entristece é questões destas chegarem a discussão no hemiciclo. Até parece que não há nada de mais importante para fazer do que estes comentários ridiculos às declarações de um ministro. A assembleia da républica é um local onde se devem discutir questões de âmbito nacional, os nossos políticos parece não perceberem isto, pois estão sempre a levar para essa casa querelas de nível partidário, cujo interesse para o país é nulo. Pois, nós já sabemos que vocês, a nível ideológico, não se entendem.

Para acabarmos com este problema seria bem mais útil e bem mais divertido para o país criar um ringue de Wrestling onde, antes do combate, poderíamos ver os políticos a gritarem uns com os outros até ficarem roxos. Sendo que, o combate seria feito de todos aqueles golpes encenados e o vencedor ditado pelos gritos, ou apupos, do público.

[Tiago]

artistas

Rui Zink defendeu, no âmbito da reacção aos cartoons dinamarqueses e da manifestação que ajudou a convocar para hoje, que não pode ser pedido bom senso aos artistas.

Não quero, de forma alguma, retirar a frase de contexto ou abstrair-me do esforço de entender a essência da afirmação.
Mas devo insurgir-me contra esta noção ultrapassada do artista em versão bobo da corte, irresponsável e inimputável.

A liberdade criativa não pode ser argumento para isentar um segmento da população dos seus deveres e responsabilidades enquanto se reserva todos os direitos (e por vezes mais) previstos para o cidadão comum.
É intolerável que a sociedade queira impor regras estritas a determinadas profissões mas permita impunidade social a outras, ou que controle e castigue comportamentos em certos líderes de opinião mas ilibe outros da chamada à razão.

A discussão em torno da liberdade de expressão não é óbvia, como muitos querem impor. Acresce especial responsabilidade a todos os que, por um motivo ou outro, ganharam visibilidade e influência, pois estas atribuem-lhes o poder de manipular, consciente ou inconscientemente, as opiniões.

Em todas as eleições artistas manifestam em público o seu apoio a determinado candidato, em todos os movimentos ou manifestações aparecem a defender um ponto de vista. O que isto significa é que tomam posições sociais, bem para além do seu raio de acção profissional.
Para além disto, bem dentro do exercício da sua profissão assumem com frequência inclinações ou preferências.
E fazem-no seguramente em consciência.

Mais que nunca, os artistas têm consciência do seu espaço e da importância da preservação da sua imagem. Têm portanto bom senso e não podem prescindir dele apenas quando convém.

[Nuno]

8.2.06

Onde estão os ideiais?

Das formas que tenho como mais convinientes para ver o estado do nosso país é andar por Lisboa, ou noutra cidade qualquer, e ir anotando aquilo que se passa à minha volta. Só assim podemos ter contacto directo com a actualidade social. A actualidade social, ao contrário do que os media querem fazer crer, não é aquilo que se discute na televisão, ou que vem à baila num jornal ou na rádio, mas antes o que se discute nos cafés, as atitudes que as pessoas têm na rua e o que está escrito nas paredes. É precisamente acerca de uma frase escrita numa parede aquilo de que vou falar. Frase que li quando passava nas imediações do meu antigo liceu e que demonstra o afastamento que as novas gerações demonstram em relação aos ideais politicos. Já não sei reproduzir literalmente a frase em questão, mas também não é isso que interessa, mas o seu conteúdo. Essa frase reproduzia uma palavra de ordem neo-nazi, tal qual vão aparecendo nas paredes dos liceus, mas a peculiaridade desta é que estava escrita em inglês. Tal não é o estado de um país quando até já os pequenos nacionalistas de extrema direita escrevem as suas palavras de ordem em Inglês.

[Tiago]

o que eu gostava de ter escrito

sobre a questão que agora sacode o mundo: um grande post.

[Nuno]

cena urbana II

Numa carruagem do metro de Lisboa, mãe e filho adulto partilham os assentos com 3 orientais: 2 raparigas e um rapaz, este de pé, encostado a um dos bancos, depois de se ter levantado para deixar sentar a senhora.
Fruto da jovialidade das raparigas, brota uma conversa espontânea entre os cinco. Os orientais entendem o português mas só falam uma língua cuja origem não consigo, por desconhecimento, precisar. Os seus nomes são Pedro, Susana e um terceiro que não consigo ouvir.
Mãe e filho, indiferentes ao facto de nada compreenderem do que dizem os outros, despejam a alma no colo destes estranhos, assim como nos de todos os que, como numa sala de teatro, assistimos ao insólito.

[Nuno]

esclarecimento

as faixas BUS existem para que os transportes públicos urbanos possam funcionar melhor; um bem público, por outras palavras.
Não para que uns quantos, em despeito pelo respeito da maioria, reduzam o sacrifício comum a uma acção concertada em seu benefício.

Algures no tempo havemos de perceber que o papalvo não é o que espera em consciência, mas o que se satisfaz por vencer pequeno.

[Nuno]

7.2.06

alteração no cloque

Como deve dar para perceber, o cloque mudou: é agora promíscuo.
O Tiago passa agora a escrever também aqui, no que espero que seja a primeira de várias felizes aquisições deste blog ainda juvenil.
Em baixo está já a sua primeira contribuição.

[Nuno]

Síndroma de macho latino

Um dos grandes problemas que afecta o nosso país é, sem dúvida, o síndroma de macho latino. Isto não é novidade para ninguém, contudo nem todas as formas de expressão deste síndroma estão identificadas. Pois, um indivíduo afectado por esta disfunção de comportamento não é apenas aquele que, cospe para o chão, bate na mulher e nos filhos, não controla os seus instintos mais animais quando passa uma gaja boa, etc.. O síndroma de macho latino reconhece-se também pelo facto do Tuguis Comunis (i.e. português comum), numa auto-estrada de três faixas, conduzir sempre ou pela faixa do meio, ou pela faixa da esquerda. O que se deve ao facto do Tuguis Comunis, quando afectado pelo dito síndroma, não gostar de mostrar parte fraca. Portanto, não se pode encostar à faixa da direita, nas suas mentes a faixa da direita é para os tansos que não sabem conduzir na auto-estrada. Mas, todos nós sabemos que o Tuguis Comunis se pensa o às do volante e que, para ele, os outros é que conduzem mal. Logo, numa auto-estrada de três faixas, conduzir pela faixa da direita, fere de morte o ego do nosso Tuguis Comunis afectado pelo síndrome do macho latino.

A expressão do síndroma do macho latino numa auto-estrada, não se resume apenas no enxovalhanço que afecta o Tuguis Comunis ao ver-se obrigado a conduzir pela faixa da direita. Ela revela-se também a partir da vergonha que é ser corrido da faixa da direita, para a faixa do meio, por uma viatura que circule mais rápido. Quando isto acontece, o Tuguis Comunis vê se obrigado a reconhecer que o seu carro, que é quase como uma extensão fálica de si mesmo, não é o melhor do mundo. Logo, as probabilidades de explosão efosiva de raiva aumentam exponencialmente, sendo a reacção imediata do Tuguis Comunis o pisar a fundo o acelarador para demonstrar que o seu carro não é assim tão mau e, consequentemente, diminuir o seu sentimento de vergonha.

O meu conselho a todos nós que lidamos diariamente com o Tuguis Comunis e o síndroma do macho latino é que tenhamos atenção aos sinais reveladores de tais comportamentos, tentando apaziguá-los. Irei tentar revelar também outras formas de manifestção deste síndroma no Tuguis Comunis, pois é um fenómeno que só agora comecei a estudar com alguma profundidade.

[Tiago]

o problema português

Hoje ouvi alguém na radio defender que os portugueses não produzem porque são invejosos. Para suportar a alegação, foi citada a referência máxima no clima actual de psicologização nacional: José Gil com o seu «Portugal e o medo de existir».

Esta busca da razão do nosso atraso parece um daqueles crimes que as autoridades têm urgência em resolver por causa da pressão da opinião pública, acabando algumas vezes por escolher como culpado um qualquer voluntário à força, numa lógica de «tanto faz se foste tu ou não, o que interessa é acalmar as hostes, e de qualquer forma alguma hás-de ter feito...».

Entre outras explicações, somos pequenos e atrasados porque somos invejosos, preguiçosos, corruptos, medrosos, acomodados, desorganizados, mal educados e mal informados.
Pouco importa se noutros países muitos se queixem de males idênticos e se o bom senso exija que se reconheça que aquelas características são, em graus múltiplos, comuns a todo o ser humano; o que interessa é apontar o dedo e encontrar a resposta única e definitiva, para de seguida caminhar para a solução milagrosa.

Agora pergunto eu: o problema não poderá residir na língua portuguesa? É a única diferença consistente que encontro entre nós e os outros.
Para além disso, de que outra forma se poderá explicar que nenhum dos países lusófonos consiga prosperar?

ligações à net

Mais um tesouro na net, desta vez descoberto ao ouvir o Nuno Markl na Antena 3, na rubrica «superpop»:
www.pandora.com

Neste sítio encontra-se o projecto do genoma musical, que em termos simplísticos se poderá resumir à análise sistemática da música com recurso a um programa informático.

A partir de um autor ou tema musical seleccionado e de uma série de categorias de características, o programa identifica o gosto do utilizador, selecciona temas que se enquadram no estilo apreciado, cria uma estação à medida (em termos comerciais poder-se-ia falar em customização) e ainda pede indicações sobre o acerto das escolhas, para melhor moldar a sequência à sensibilidade do ouvinte.

6.2.06

cena urbana

Senhora e cão caminham lado a lado na minha direcção. A senhora, uma qualquer; o cão, uma amostra, um daqueles que rosnam e ladram como os bonecos para fixar no carro.
Num passeio de metro e meio de largura, cada um ocupa uma das extremidades do mesmo, com a trela a cobrir a distância entre os dois.
Perdido algures dentro de mim, entre devaneios e cogitações, contorno o cão pela estrada, evitando a custo um carro que serpenteava agilmente entre o trânsito.
Regressado ao passeio, abrando pasmado com tamanha estupidez. Da minha parte, claro, pois a senhora e o cão fizeram apenas o seu papel.

3.2.06

geopolítica futebolística

O FC Porto perdeu a oportunidade, que a pulso construiu, de se tornar maior que o país. Esteve lá, no Olimpo do futebol, olhou os grandes nos olhos e sorriu em triunfo. Agora está outra vez apenas cá, na discussão comezinha de comadres, no insulto e na difamação, a um passo da implosão. Incapaz de acolher os que quiseram juntar-se ao novo conquistador, limitou a base de apoio e o potencial de crescimento.

2.2.06

normalidade

Agora pegou o argumento de equivaler o casamento entre pessoas do mesmo sexo a qualquer outro tipo de casamento menos convencional, sendo o caso mais apontado o da poligamia. Pacheco Pereira adiantou ontem na SIC Notícias o exemplo dos muçulmanos, que poderão exigir o direito ao casamento entre mais do que duas pessoas.
O problema neste argumento é, do meu ponto de vista, que a poligamia é, como algumas outras práticas sexuais e afectivas, socialmente reprovada, enquanto a união entre homossexuais é aceite e corrente.

Para além disso, importa dizer que, por conveniente que o raciocínio de equiparação das diferentes práticas possa ser e até por razoável que possa parecer, não passa de manobra dilatória para tornar a discussão etérea.
Ainda que em termos metafísicos os temas pudessem apresentar algum paralelismo, o que se exigiria neste ponto seria sempre acção concreta e, como tão bem relembram alguns em momentos oportunos, a política resume-se a realismo.
Nesse contexto, a negação de direitos iguais resume-se a discriminação efectiva e consciente a 10% da população.

o dependismo

Justamente quando eu começava a acreditar que um dos sinais de amadurecimento de uma sociedade seria a capacidade de análise ad hoc das situações, eis que concluo que cresce a segmentação ideológica entre os pensadores nacionais.

Para tomar posição sobre determinado tema, há-que anunciar a priori o movimento, a crença, a ideologia, a religião a que se aderiu. Só aí se torna possível compreender essa posição e, consequentemente, só aí a posição é ouvida.

O incómodo da questão é que ninguém adere incondicionalmente a algo que outrém idealizou, porventura por questões de ego.
Logo, há adaptações indispensáveis (ainda que sirvam apenas para consumo interno, para tranquilidade da alma) para o alinhamento.

Nesse momento, gera-se o dependismo.
Um dependista pode ser convictamente demagógico pela manhã, radicalmente ortodoxo durante a tarde e deliciosamente libertino à noite, sem contudo deixar de professar no espaço público a doutrina que mais lhe convier.
Tudo depende

1.2.06

hipocrisia familiar

Por razões que encontro alguma dificuldade em deslindar, a única forma de unidade familiar que hoje permanece por aceitar com razoável naturalidade é a que se baseia numa união homossexual.

Que se juntem, que se escondam, ou até que o assumam de maneira bem discreta, mas uma família é que não são. Os casais homossexuais, quero dizer.

Num episódio da série «Seinfeld», o comediante arrisca que a homofobia masculina se deve à consciência que os homens têm relativamente à sua incapacidade para recusar propostas de venda bem conduzidas.
Por outras palavras, ele defende que os homens são homofóbicos por medo de gostar se abrissem a mente à ideia.

O que emerge desta teoria, formulada por este reconhecido observador social, é a resistência observada na sociedade à homossexualidade como um todo.
O caso particular do casamento homossexual pode portanto não passar de uma fatia do bolo.

Quando as estatísticas mais recentes apontam para uma população homossexual (e bissexual) com uma representatividade de 10% na população total, não se compreende como se pode alegar que a situação não é premente. Estamos a falar de um milhão de cidadãos.

Existe contudo um subtema que considero mais relevante ainda, o da possibilidade de casais homossexuais constituírem família.
Muitos rejeitam esta hipótese por consideração à criança e às suas necessidades.

Evito nesta fase entrar em detalhe nos argumentos que podem ser utilizadas a favor ou contra.
Prefiro perguntar em que medida o desenvolvimento de uma criança criada por um casal homossexual pode ser menos adequado do que o de outra educada numa família monoparental (recorrendo a meios de procriação tradicionais ou inovadores) ou numa família «normal» com um ambiente de agressividade ou de ausência (e aqui refreio as considerações sobre as possíveis orientações sexuais destes educadores).

Wild Bill


De acordo com a Forbes, este é o primeiro da lista das pessoas mais ricas do mundo em 2005.