É bonito. Quem diria que este homem seria um dia vice-presidente do maior grupo financeiro público-privado português?
De funcionário de balcão a administradorComeçou como simples funcionário de balcão na dependência da Caixa Geral de Depósitos (CGD) em Mogadouro. Ascende agora a um dos lugares de administrador da CGD, superada enfim a "travessia do deserto" cumprida após a sua atribulada demissão do Governo de António Guterres.
Transmontano de gema, Armando António Martins Vara nasceu há 51 anos no lugar de Lagarelhos, freguesia de Vilar de Ossos, no concelho de Vinhais. Quando eclodiu a Revolução dos Cravos mergulhou a fundo na política, filiando-se no Partido Socialista. Mário Soares era o seu ídolo. Volvida uma década, com 30 anos, já representava o PS na Assembleia da República, como deputado do círculo de Bragança, chegando a vice-presidente do grupo parlamentar. Por concluir ficou o curso de Filosofia na Universidade Nova de Lisboa.
A experiência parlamentar, que se prolongou por várias legislaturas, permitiu-lhe alargar a rede de conhecimentos e sedimentar relações nos círculos políticos, fora do âmbito do PS, e também nos meios jornalísticos. "Ele é amigo do seu amigo, bastante generoso, e tem uma forte personalidade. Por vezes revela-se bastante obstinado." É assim que o descreve ao DN um dos jornalistas que o conheceu bem nos corredores de São Bento.
O jornalismo, de resto, foi uma actividade que sempre fascinou Armando Vara. Ainda muito jovem, o futuro ministro manteve um programa radiofónico na RDP-Nordeste. Em 1985, integrou a equipa de fundadores do jornal A Voz do Nordeste - mais um sinal evidente de ligação à região natal. Do seu currículo político a nível regional constam ainda as funções de secretário coordenador da Federação Distrital de Bragança do PS e deputado municipal na sede do distrito.
Entre os socialistas, a nível nacional, começou por ser apoiante de Jaime Gama. Mas, através do seu amigo José Sócrates, aproximou-se de António Guterres. Este escolheu-o para membro do "governo- -sombra" do PS nas áreas das Obras Públicas e Transportes. Foi uma espécie de ensaio geral, ainda na oposição, para as funções governamentais que Vara exerceria após a vitória "rosa" nas legislativas de 1995. Quatro anos antes fora candidato a presidente da Câmara Municipal da Amadora, tendo recebido cerca de três mil votos menos do que o representante da CDU, então a força dominante no concelho. Foi vereador durante algum tempo.
A mudança de ciclo político, protagonizada por Guterres, levou-o primeiro a secretário de Estado da Administração Interna (1995-97), depois a secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna (1997-99). Com a segunda vitória eleitoral consecutiva do PS nas legislativas, em 1999, tornou-se ministro adjunto do primeiro-ministro (1999-2000), com os pelouros da juventude, toxicodependência e comunicação social. "Finalmente ministro", titularam à época alguns jornais.
Já em 2000, passou a ministro da Juventude e Desporto. Mas antes do fim do ano viu-se forçado a pedir a demissão ao surgirem notícias sobre alegadas irregularidades cometidas pela Fundação para a Prevenção e Segurança, que fundara no ano anterior, quando era secretário de Estado. As irregularidades nunca foram provadas já em 2005, a Procuradoria-Geral da República arquivou o processo, reconhecendo que Vara não violou a lei. Mas o ex--ministro continua sem perdoar ao Presidente da República: na altura, Jorge Sampaio terá recomendado a Guterres que o tirasse do Governo.
Agora é o regresso pela porta grande à instituição que acolheu os primeiros passos profissionais deste benfiquista que se mantém sócio do Grupo Desportivo de Bragança. Vara é assim por mais que suba, não esquece as raízes.
Nuno